24 de out. de 2010

Fazendo efeito

 Estraguei o perdão. Explodi o muro. Vou tentar me recompor. Com versos duros de amor firme sobre a cama. Claro que andei errando. Andei rápido de mais. Com tonteiras, com teorias, com muito respeito guardado. Um trabalhador à deriva, manco e estridente, era eu. sóbrio sonhando na hora do almoço corrido, como só o vento é capaz de sonhar, e sentir, e tossir. O vento, meus amigos, faz qualquer coisa, seu repertório é imenso: ginga, poli, rasga, quica; seu rosto é eterno. Não me canso de pedir perdão. Perdão. Perdão. Eu não dormi atoa. Tão pouco observei o mar, vi a lua... A jóia fere, eu sei. Rasga a pele. O sol transfere a noção. Pela direita, sempre. Sua irradiação é perfeita, e estamos a sua mercê. Ela manda e desmanda. Ela detém o controle absoluto da esfera. Mas, sua semântica, ninguém entende. Ninguém “saca’' nada. Pudera. Não temos faro pra coisa... Somos apenas um animal. Aliás, o único que pensa que não é animal. Talvez pela habilidade divina de comprovar residência. De informar as horas. Se eu me percebesse animal, se vivesse como tal escreveria melhor e mais, certamente. Mas essa, parece, não ser mesmo a nossa vocação. Ai de nós! Porem, com tudo, afirma-se o que der na telha. Eu, por exemplo, afirmo com toda certeza existente que os passarinhos voam porque cantam, e são amantes perfeitos e dedicados e belos porque voam; mas também porque trabalham intensamente, doa a quem doer. Perdoe-nos Senhor, o estilingue é irresistível pra nós. Errei. Errei, profundamente. E hoje, com um olhar robusto e míope, critico a miséria de um fim sem mundo de quem quase amou seu papel sem medo, de modo agressivo e sensual, estupidamente grato. Estraguei mesmo, tudo. Perdi tudo, mesmo. Rasguei as idéias. Minhas questões, minhas inércias foram gentilmente escorrendo ralo abaixo sem incomodar os vizinhos. Explodi o muro, de fato. E o mistério, então, trocou de semblante no esvaziar de sua mente que antes fora minha amiga. Agora tenho que arcar com as consequências. Bem, agora não. Amanhã. Amanhã!