23 de mai. de 2009

Carta que não escrevi

Uma cartinha enfeitada com termos doces para adjetivar o incompreensível. Pauta dupla pra suportar o indizível. Cheia de atenção para com o mundo por de traz dos conflitos; hora pessoais, hora universais. A extrema e terna espontaneidade contida nela, revela-se no meu português ruim. E percebe-se na lentidão de um versinho bem-humorado, daqueles mais simples, todo o carinho nela descarregado. Tão claro e tão óbvio que ficou mais nítido que as queimaduras do meu cigarro em repouso no papel. Quanta interrupção meu Deus. Por causa disso me esqueci de contar sobre um samba novo que eu aprendi e que to doido pra mostrar. Sem problema... Ah, como eu queria usar pontuações que representasse pausas para um gole e outro, por exemplo. Goles que, aliais, justificam, um pouco, minhas falhas gramaticais. Sei que sou um remetente sincero e até presente (depende do ponto de vista) como todos deveriam ser, eu acho. Porem, torno-me um covarde ao me expor somente nas entrelinhas. Eu me peguei, varias vezes, desenhando no cantinho inferior direito. Fiz sorrisos (querendo uma boca), uns olhos, um sol e um violão. De modo que lá no final dessa carta –que era branca e agora ta cinza, fria- as palavras foram se estreitando, se estreitando, e mais, e mais ainda, mais, muito alem do que o de costume, para dar espaço a essas figuras do meu subconsciente. Ah, me apeguei a elas. E pensei que pudessem dar um ar amistoso, até, esses esboços simplórios e undergrounds. Apenas pensei. De qualquer forma, eu os mantive. E ali, em meio a esse caos de letrinhas e rasuras e gravuras, eu revelei, e agora com clareza, a minha mágoa escondida. Escapou-me alguns palavrõezinhos. Achei-os bastante engraçadinhos (sempre no diminutivo), e também românticos. Romantiquinhos. Se é que é possível. Sendo assim, resolvi deixá-los também. Eu seria compreendido. “É pra haver rima” - eu explicaria depois - “Creio que veio a calhar”. No entanto, já não se entendia nada, tamanha displicência caligráfica. (Minha desordem é amorosa, não confundam com desdém). bem, tem uma ou duas coisas que não mencionei. E não farei, por pudor e diciplina. Mas, que me deu vontade...ah, isso deu. Então, assim, um enorme te amo encerra tradicionalmente o assunto. Ou encerraria... Ainda não sei por que não a escrevi. Sei que alguém não a recebeu. Não se confortou. Não se sentiu especial. Não. Não soube da minha imensa saudade. Nem vislumbrou meu semblante sereno no momento em que eu rabiscava lentamente, e em letras de forma, o seu nome no cabeçalho. E nem sentiu a tristeza com que meu lápis acariciou sua inicial gigantesca. Nunca darei os beijos que espalhei por essas frases. E agora meus gracejos hão de ter outro destino. Outra funçao.

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